quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Verde




Verdes
livres da esperança da volta
longe
que entorta o azul
que te dou

leve
quando escondes
o desejo de me ver chegar

verdes
atrás da íris negra
da aliança que pactuas

mesmo que nua
não é minha
nem tua
a gruta que esconde a fala
do desejo que me enlaça

úmida
a porta da minha volta
e do meu prazer em te-la

verde
tua boca
é verde da cor do meu pecado
quando disfarço
meu desejo de respirar
teu hálito
e beijo de soslaio
teu nome

verde

Serei tua

Serei tua
por toda uma eterna manhã
apenas desço da solidão do ontem
e vivo as línguas da juventude
emaranhadas na visão
sublimada da menina na praça

serei tua
por toda a manhã de nós
das bocas que calam
e eternizam o não como um sim

serei a primeira
mas aquela manhã
foi a vida inteira

serei tua
por toda a eterna manhã
das desculpas
e dos meus nãos
quando era namorada
mais que amada

serei tua
apenas na manhã
de nós
não mais das tardes que somos
nem das noites
que nos esperam

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Tu és

Tu és

minha fala e estrada
e o que espero
todo dia
no limite do meu espaço
quando rasgo
a solidão
pelo teu braço

meu regresso
e meu descanso
o meu fado
quando sozinho
escuto e silencio
e grito mudo
por teu abraço

o meu resto
quando tudo é desperdício
e efêmero

eterno e meu
Universo
quando pequenino
te espero
todo dia

cura da melancolia
e meu verso
quando triste
desperto
e fico bem perto
do anverso
do resto

domingo, 10 de novembro de 2013

Jejuar

Jejuar é sofrer consciente
mas uma dor efêmera
consequente da ação insana
e perdida

jejuar
é compreender a sede
no deserto da dor
é a materialização do arrependimento
é o auto perdão

jejuar é o ápice da oração
é a gratidão
é a memória do coração

que abdica da revolta
e do desespero

jejuar é a resposta
que prepara a alma
é o pleito que não implora
mas agradece e chora

é o amor
é a porta

Duas

Duas
e uma só boca
uma só estrada

duas
e um só medo
uma só volta

como beijos
que nunca te deixam

duas
o conforto
e o mergulho
a fome
e o desprezo da voz

a certeza
e o azul infinito
como ninhos
além das fronteiras
de algum lugar

duas
e a porta que esconde o dia
e enclausura a fala do cantor
que morre de asfixia
das emoções e da dor

duas
apenas uma escolha
e uma saída
e nada na língua
além da fala
que emudece a alma

O beijo





O beijo que você me deu
me deu
não foi um beijo
meu
foi teu
e teu
e eu
gostava tanto
de te ter

o beijo
meu bem
enroscou
no passado
o beijo
que você
perdeu
foi meu
e meu

o beijo
que você
esqueceu
na boca
da serra do mar
no ororubá
foi um beijo
que me perdeu
o teu
e o meu
na  catedral
e Águeda
abençoou
o beijo
que você me deu

sábado, 2 de novembro de 2013

Querubim

Chorei!
pois perdi
a voz

a lágrima
a última fala
a fala de quem
já não tem voz

chorei!
e mudo
imitei a língua
implorei
volta!

Chorei!
e a vida escorreu
por brechas
que desenhei

Chorei!
e mudo
estornei a ala da fala
pois gritei
tão intensamente
que deixei a vida na sala
inerte e cálida

Chorei!
e deixei a voz escorrer
no conformismo da espera
e não mais amei
nem assisti o sol nascer
apenas saí por aí
sem caminhar

Chorei!
e na ilusão
não pude voltar
pra mim
e pintei
um nome
um fim

Chorei!
apenas chorei
querubim