domingo, 18 de agosto de 2013

O amor órfão

o amor tem um percurso duplamente estranho
em um primeiro momento antecipa-se bloqueando a razão
em um segundo momento entende que não se deve subverter a ordem
e procede a uma análise crítica da ilusão de viver o sonho projetado pela sua insânia

Eis que é necessário transformar esse poder desigual
do desprezo da razão e a própria razão maquiada que substitui o platonismo inicial
é necessário construir alternativas para o esquecimento e boicotar o amor
desconstruindo a aspiração e desarmando a resistência
em um confronto do esquecimento
afinal o que vem depois só tem sentido se já estava antes
como as ausências e a convulsão das raízes e opções

é um desperdício reconhecer as diferenças e os mundos desiguais
e sentir o amor como se vírus, excluindo as possibilidades do encanto
permitindo o desencanto disfarçado em apropriação transformadora
e a minha luta incessante gera a indolência
mas reconheço demasiadamente tardio
a minha lembrança está longe de restar perdida.

idilio


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Caruaru

O que dirias
das ruas que pisei
estradas e marcas
e aí morei

meus beijos e lágrimas
nostálgicas calçadas e praças
e a casa que vivi

janelas passadas
por onde andei
e em tuas entranhas
depositei filhos e lágrimas

amei amei
tuas largas esquinas
e namorei teus sinos
tua espera e herança

por fim
fica sempre por saber
não te insinuas em mim
pois não posso mais
celebrar a fragmentação
das tuas diferenças

Caruaru
o meu apelo foi
aprender com tu
a necessidade de reinventar
a minha história
e condensei
o teu nome em mim

e hoje
imune à obsessão de desconstruir
oculto a tua relação desigual
de ser meu ontem
e meu fim



idilio

Ventre livre

Tantos janeiros vividos e sonhados
ainda compositor da vida
buscando atalhos perfeitos
na ilusão de um mundo sem mágoas
em estorno por terras dantes pisadas

sem ser o mais o mesmo
ainda sou quem erra
e espera a volta do novo
ou do ladrão

tenho lágrimas pisadas
e difluais que não merecem a atenção
meu canto é surdo
e ainda na contra-mão

se eu clamar
o que você irá escutar
seria o fim de festa
com meus versos
ou ingratidão

cada peça iludida que encenei
cada culpa que vesti
disfarçadamente escrevi
e o que convém
não senti
só busquei quimeras

desprezo a chegada e a partida
mas ainda assim
prenso o meio dia
e sou apenas um andante
por aqui

mas
enquanto a chama arder
serei tudo
e a lágrima que purifica
encharca a dor do mundo
e irei fundo
no ventre da terra