sexta-feira, 23 de novembro de 2012

JANELAS

Todas as lembranças
são encontros com o passado
pela janela do coração

se sou poeta
ou artista em minha vida
só serei
pela janela que abri
e vi
o tempo escorrer
no vazio de mim

e mesmo a tristeza tem janelas
mas procuro dizer a esta
sempre
jamais olharei pela tua fresta

se sou janela
por vezes serei espaço
em teu ser
ou serei o grande abismo
que afasta por amor
as coisas que deseja
pelo amor de desejá-las

e por vezes
de tão perto
os que dele nada sabem
pensam que o possuem
pois que vêem apenas sombras
do que vivi e vi
pelas janelas que abri

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A reconstrução do templo

Eu vi a tua primeira casa
mas aquela casa não era a tua
aquele templo não era o teu
aquela glória não era embastada
era glória gasta

quem viu aquela casa
na sua primeira glória
o que vê hoje
é sepulcro caiado

o que te foi tirado foi templo gasto
recomeça a construção do novo templo
porque sou Eu convosco
e a glória desta última casa
será maior que a primeira

Aquela casa não era a tua
e não desejo devolve-la
como teu encanto primeiro

Edifica teu novo templo
e me faz guia
não desprezes o humilde recomeço


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

SAUDADE

Saudade éa dor em liberdade
não é só uma palavra gasta

saudade é mágica que se espalha
na ferida causada pela distância
entre nós

saudade é ópio
é engodo da dor

é neblina que adormece a iris
mas é mera luz
na escuridão da dor

saudade é a minha dor em lamento
é vento que se espalha
é fragmento de uma lembrança

saudade
saudade

sábado, 3 de novembro de 2012

tempo perdido

Se não carpinas onde visito
e és espuma que flutuas
em minha vida

se já não sentas mais
na minha esperança
nem esperas mais
a minha volta

que faço eu na tua sala
se já não nem enfado a tua cama?

e nessa desdita em arremesso
nem sei se é hora de partir
ou de mentir

apenas imito a tua boca de outrora
e sigo sem espaço
no teu compasso
de moça velha

se já não desperto teu sarcasmo de mulher
esqueça
pra que morar na tua cãmara
e não ser primeira?

tempo perdido
esse que embalei o teu vestido
e te fiz dama
entre tantas
que enganam
entre falsas esperanças
de moça velha

MEU DESEJO

eu desejo que você saiba
que por vezes me pego
amando você

que sou a sua voz
quando grita
e a gruta que empossa
teu nome

que não esqueço
o pouso da minha mão
no teu quadril

eu desejo que você saiba
da necessidade de te ter comigo
nas coisas que se tornaram instáveis

da sofreguidão do meu apetite
desarraigada com o crescer dos anos
e que desde então
ninguém seguiu o curso de minha vida
tão bem

eu desejo que você saiba
que as coisas ínfimas
também deleitam
mas não suportam a solidão

que o meu desejo
e o medo de o perder
tornou apático o meu dia

eu sinceramente desejo
que você saiba
que a místura de sílabas
na sua boca
foi meu paráclito consolador
e minha lágrima
de despedida