sábado, 31 de julho de 2010

o guardador de sonhos

O guardador de sonhos

 

 

Eu nunca guardei sonhos

Mas é como se os guardasse.

Minha alma é como um poeta.

Conheço o amor e a dor

Que anda pela mão das aventuras

Ou desventuras

Sigo a olhar toda a gente

Que teima em sentar ao meu lado

Quando a mim me basta  ver o pôr do sol

Mas a minha tristeza é sossego

Porque é natural e justa

Não tenho ambições nem desejos

Porque se os tivesse

Em vez de serem ambições ou desejos

Seriam medos de se imaginar querendo

Pois todo querer é triste

Pois se espalha por toda a encosta

E corre um silêncio quando não

Se pode abrir a porta

Quando se ama o querer

E amar é a eterna inocência

Dos sonhos

 

Idílio 23.092007.

o meu amor

O meu amor

 

O meu amor é amor mais que amor

É a tentativa de ser

a lembrança perdida

De uma tarde qualquer

O meu e o teu

Amor da avenida, de ladeiras e vilas

É a derradeira esperança

De um dia na dança

Te embalar

Tu criança

e o meu peito vazio

De não ser só e perdido

O meu amor é amor sem espera

É a última quimera

Que ficou lá na serra

É a tentativa perdida

de uma manhã sem passado

de andar pela vida

sem certeza só descalço

O meu e o teu

É amor sem juízo

Sem certezas ou gritos

É a última lembrança

Que se perdeu na memória

De um domingo sem sombras

O meu amor é amor sem amor

É amor que se perde

Que se ergue sozinho

Sem ser mesmo certeza

Se quer

É amor que espera

É amor que venera

a mais linda lembrança

Muito estranho

O meu amor é chama

Muito grita de dor

O meu amor é amor é Maria

É amor todo dia

É amor sem amor

É viver em um dia

E morrer noutro sonho...

 

 

o silencio

Como fazer falar o silêncio sem que ele fale necessariamente o que pretende fazer falar

 sem que doa no peito , sem que meu vestido me esconda de mim

essa tragédia pessoal de conhecer o que soa por dentro e ecoa nas entranhas da minha alma

e me dista dos homens e me esquece em um canto como um bloqueio necessário

não há um único possível  que possa resistir a fraqueza de ter conhecido os meus sonhos

e quem sou eu, entre o meu desejo e o meu dia existe um espaço que sinto mas não vivo

e nesse meu grito, pretendo apenas prender bem junto a mim a minha alma que viaja entre

Aqueronte e minha cama, e me dista de mim , meu nome? Dirias tu  Nada, Nada, eu porém

lho digo  meu nome é amor supremo, é amor líquido entre o meu azul e o teu céu.

 

Idilio 

os amantes

Os amantes

 

Pulsa a língua em um acelerar  múltiplo

A Iris reflete o mar dos amantes

O sangue  escorre para o prazer

O beijo explode lentamente como letárgico

A mão toca o prazer

E naquele instante

Por um instante se vai

De olímpo a Aqueronte

Divino prazer

Dos amantes

idilio

 

quem sabe descanses seu desejo em mim

Quem sabe descanses seu desejo em mim

 

Quisera entender a perfídia que grita em um corpo de mulher

Quem sabe em um descaso qualquer entendas  já sem tempo

Ou quem sabe descanses seu desejo em mim

Ainda assim, em restos de gotas encontro teu corpo

Entre beijos e cantos  te encontras perdida

Entre voltas e idas procuras um canto

Quisera entender se é desejo ou fuga

Quem sabe em um descaso qualquer descanses seu desejo em mim

Ainda assim tu voltas aos restos dos beijos que partem de ti

Quem sabe as gotas perdidas dos beijos são falsas promessas

E a volta é assim, tu partes sem sair e permaneces até um novo amanhecer.

Idílio. 22.04.2010

a divina tragédia humana

Se a emoção caminha em alguma direção

O seu veículo é o impulso

A semente de cada impulso germina

De início alegrias e quando em direção aos céus

Causa uma grande dor

Como controlar o que está explodindo

Dentro do peito

Sem dizer-se que pulsa de uma deficiência moral

E o caminho percorrido?

E os sentimentos alheios?

Valerá uma vida arquitetar

Sua alegria, o seu amor?

Será mesquinhez de espirito

Esquecer-se de agradecer às pessoas

Pela sua vida

O que faz a diferença?

Serão as emoções tão nocivas

Ao limite do desequilíbrio?

Será  destino viver toda a sua vida

A decidir sobre vidas

E não saber a direção a seguir

Quando a esquina é a tua própria vida?

Serão os olhos tão cegos

A ponto de só vê bem com o coração?

E quantas infinitas vezes esse órgão

Onde pulsa as emoções não vê

Apenas sente e emaranha-se nas teias da paixão

Será que o homem tem duas mentes?

Uma que sente e outra irracional

Ou serão duas mentes que mentem

Que são mentes

Quando apenas é uma mente

Quanta comédia

A divina tragédia humana

Entre o morrer e o reviver

Dentro de um mesmo corpo...

                                               Idílio Araújo

 

 

Coração

Será o coração tão frívole, tão carnal quanto se cuida

Ou terá nele mais de um assombro fisiológico:

Um prodígio moral

Será o órgão da fé, do ideal

Vê ao longe com os olhos da alma

Vê a ausência, vê o invisível

Onde para o cérebro de vê

Outorga-lhe Deus que ainda veja

Mesmo abandonado no interior

Do arcaboiço das entranhas, ainda agita-se

Com as derradeiras pancadas até sair dele as centelhas divinas

Mesmo quando o amor sádico

O esquece, ele pulsa como que sobrevivente

Póstero, previvendo e prevendo uma nova dor

Quando a sua flor de lácio braveja

Contra o seu próprio bem que não entende

Quando o poder da escória inflama os lábios

Que dantes atravessou línguas e mares

Irritado o coração jorra e chora

Mas não se degenera nem machuca

Só resseca, caleja e endurece o que foi poesia, o que foi sonho

E na alma, tantas vezes, nem de despedidas, nem de desamores,

Nem de preterições, nem de saudades,

Perdura o menor rasto, a menor idéia de vindita

Só o coração sofre, e a mente, o olhar e o corpo

São indiferentes e sorriem como uma feliz vida

Desde que o tempo começou, lento, a me decantar o espírito

Do sentimento das paixões, com o verdor dos anos

E o amargor das lutas

Vim a perceber a imensa dívida que temos

Pela vida, pelo infinito da alma,

Perante o criador

Quando as máscaras caem, o homem desperta

Desarmado e nu

Ame, e deixa transpirar o teu coração de amor

Só assim ele vive, como se para ser feliz

Fosse necessário só um dia..... IDILIO ARAÚJO. 19.11.98

angústia

 

Os meus olhos pulverizam

a dor de uma liberdade presa

Ainda assim, não choro

a lágrima calcificou a íris

A dor da solidão só é sentida uma vez

uma única e  dolorida vez

O homem não vive sem amigos

sem se perder uma ou duas vezes  na noite

e se embriagar em um sorriso  

Alegrias, tristezas, um dia e uma noite

é assim o viver

As dores são noites eternas

e o prazer de se viver banaliza a dor

Mas enfermiça a alma

que de luto chora e chora

Os anos passam como o trigo e o pão

o que resta a cada um de nós

É a lembrança do que fomos

Da janela se vê ao longe

mas sempre se vê o que já existe

e o que se foi?

É necessário viver

mas o viver não é um dia atrás do outro

sem motivos, sem direção

Um homem não pode viver sem motivos

sem a responsabilidade do viver

Onde estão os amigos?

o que eu fui e sou

porque a vida me foi roubada?

e hoje vivo por viver

Olho à minha volta

o mundo é feliz e eu não posso sê-lo

Gostaria de viajar

uma viagem longa e inimaginável

porém sem nostalgias ou saudades

uma viagem como se a volta fosse sempre possível

como se a volta fosse um renascer.

 

Idílio Araújo  24.03.2006

a carruagem

Só existe um caminho

Que não tem dor nem mágoas

Mas a minha carruagem está quebrada

E o único carpinteiro do bando

Hoje vive embriagado

Até a menina que jurou ajudar-me

Esqueceu a promessa

Deixou meu menino perdido

Esqueceu até que tem uma dívida comigo

E eu Tâmia a retirei da lama

Hoje meu menino caminha

Em direção ao abismo

Que caiu tantas vezes

E ninguém se preocupa

Só o velho lá das terras

Aquelas que tantas vezes

O nosso bando aportou

Mas pouco ele pode fazer

É a sua dívida Carolina

Você bem sabe.

 

Idílio em 18.-2-1991

Dois

há uma ponte que nos une
em algum lugar
há uma estrela que sempre está


existe um caminho
imaginável
que une o que somos
no ontem e no hoje
e que na verdade
não é passado nem presente
se confunde tudo
em um tempo diferente

te amo assim
entre uma estrela e outra

não me importa achar a ponte
unir as estrelas

me importa sonhar que existes
e que realmente existes
em algum jardim

me importa saber que vivo
eu para ti
e tu para mim
em algum lugar

e todo dia
será uma espera
serei uma história
serás uma porta

idilio

minha arte

escrever
minha arte
uma verdade imperceptível
que o tempo dissimula
aos olhos perecíveis da humanidade

e o que será da minha arte?
sequer um olhar a comtempla com olhos atentos
e nenhum jovem irá minguar
por tras das letras mortas
e por ser bela ou triste
não saberei jamais

pois a minha arte é o desabafo
da minha solidão.

idilio.

canção para tê-la

lembra uma voz
no mistério do riso

lembra a magia de menina
na inflexão de mulher

lembra de mim
que guardo e vejo-te
quando me fecho
e viajo
no canto dos teus lábios
quando sorris

lembro
quando teus olhos fogem de mim
como buscando guardar-me
para sempre....

idilio

minha oração

Jesus mestre e amigo
carpinteiro do universo
verso e reverso
eu a ti desfaleço e calo
quando no silêncio
só a ti falo

sublime pai e filho
quando já na bruma eu me perco
e foge as forças da matéria latente
quando já umbrático o presente
e caminho entrementes perdido
na dor suprema da alma esquecida
clamo a ti redentor divino

dá-me tuas mãos neste vale de lágrimas
eis que sou fraco e pequenino
para tragar no cálice da dor
que redime o espírito errante

Jesus mestre e amigo
verso e reverso.


idilio

ilusões

liberdade ...
quem a tem nobre guerreiro

e já não é o viver a prisão primeira?

sonhar seria a fulga brejeira
mas não
se nos limita as grades do tempo

e o amor caro amante
seria as asas da primavera

porém

a mim é forçoso dizer-te

quem se deixou amar
sequer estar preso
mas perdido no gueto.

os quereres

não quero revirar sentimentos perdidos
nem encarar frases que ficaram no ar

não quero voltar a penas perdidas
em busca de amores vazios
para ocultar a minha dor

estou aqui e posso dizer
o que vivi

e a vida segue sem um fim
só essa certeza
é o guia que se interpõe
entre o eu de agora
e o que vivi

e dai escrever a história da vida
e projetar o amanhã em paz

não quero flutuar em um passado
nem encarar a iris do tempo

busco a ausência
e seguirei estradas mais seguras
com os pés plantados na certeza
serei meu guia
no fim do mundo

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Zé Paz

as culpas nos levam às lágrimas que não lavam a alma
apenas iludem
e mancham a semântica da dor
e os caminhos tornam-se inquietos
e a alma impura sangra

já tenho dito da desproporcionalidade da amizade e o poder de mando
mas não tenho a alegria de sabê-lo efêmero
e no amor
esse amor decorrente dos instintos e da possibilidade social de não se estar sozinho
fraqueia diante da fragilidade do outro ser depositado na perfeição do querido

não poderia falar em fim se não tem inicio
talvez e possível em mudança de paradgma do ser
a nova era do desejado
ou a derrocada de uma ilusão
que por vezes envolve toda uma vida

enfadonho é amanhecersem perpectiva de mudança
ou um projeto de novas ilusões
ademais viver é renascer pra novas linhas traçadas em busca de caminhos imagináveis
quiça
se o corpo queima e chagas mascerantes te desnudam o peito
se te corrói as entranhas e teu corpo fragilizado nada pede

poderias gritar ou implorar um passeio sem destino
ou compromissos demarcados
apenas um passeio e seria vida aquele instante de devaneio
aquele instante esquecido das dores da alma
em que poderias ver o mundo apenas na sua pureza do tempo real

e esse teu pleito despretenciosoe simples
seria fronteira da tua sanidade e cura da depressão que se instala na alma doente

ou poderias deitar e dormir para uma nova história
que se protagoniza no sonho
esse mergulho na vida dos anjos.

idilio

terça-feira, 6 de julho de 2010

teu coração mora aqui

não poderia dizer-te
que moras aqui em mim
não mesmo

ouso sim
dizer-te
que te amar é suplicio adorável

não
não esqueças
de mim aqui
em terras distantes
em terras que não pisas

apenas teu coração
mora aqui

idilio

domingo, 4 de julho de 2010

ao que vai chegar

seu nome ainda é quimera
numa folha qualquer
no tempo

seu sorriso
quem dera
ser homem ou mulher
no tempo

e nessa viagem
quisera te encontar em outro dia
espera

seu nome que importa
Luisa ou Brisa
é ternura
em qualquer tempo ou ilha

tens olhos escuros
tens força
no ventre da filha
és filha

teu nome?
que importa
se novamente tu voltas
enfim

Idilio em 27.06.2004

tua dança

sou um longínquo
escrito à tinta negra
nas pétalas de um lírio

nesse louco vagar
nessa marcha perdida
busco a última flor de lácio
inculta e bela
que é meu esplendor
e sepultura

amo o teu viço agreste
e o teu aroma
de virgens selva

amo tu cigana
e minha dor fulgente
se espanta
ao me ver triste
enfadonho
com ciúmes da tua dança

tudo em ti me é segredo
qual pássaro que voa nos ares
e não lembra dos simples mortais

sou guerreiro
de lutas e danças
minha alma é o meu leme
quando inebriada
se impregna na tua vida
no seio do Senhor.

idílio ( 1993 )

nas bordas do meu vestido

tu que mergulhas
com ânsia incontida
no poço das lutas vividas

e quando à tona
te vês de repente
cheia de amor às mãos trazeis

tu que do passado viveis
e que como de límpida nascente lembrais
não mais com angústia
mas pedes clemente

volta!
volta!

viverás enquanto houver quem pulse
o mágico instrumento
quem ame e sofra
e ame e dançe

viverás enquanto houver
um canto no universo
levarei nosso canto
traduzida
nas bordas do meu vestido

idilio

sábado, 3 de julho de 2010

apelo ( resposta a angústia)

a ti respondo sinceramente...
nunca procurei ferir teu peito
tudo que te quis
não foi só fragmentos
não
não te olhei
como se carnal fora esse amor

em ti depositei a certeza de um coração
que busca sentidos
em ti depositei a volta
muitas vezes perdido

em ti muitas vezes encontrei saudades
mas nunca descaso
nunca o acaso

hoje as coisas são bem diferentes
mas é o mesmo céu
o mesmo tempo
o mesmo eu
o mesmo você
a superfície das coisas é que já não são as mesmas


mas eu não quero destruir pontes forjadas
nem opiniões formadas
não
eu não quero nunca ser desdita
nem nunca te ter sem paixão
sem se querer por querer
hoje é amanhã tão cedo
mas tão tarde pra tantos...

Angústia

E perguntas já partida...
que queres da dor que causastes?
e a mim, o que me cabes?
que queres ao tirar-me a paz
que ora vivo quando tu não estais.
e quanto a mim
já tropeço no que não fui

Que queres tu
quando a mim desfaz
e partes sem sentido

quando já cansado da estrada
voltas
e te refaz em meu amor
para novamente partir
em um caminho vil e sem passado

que queres tu
se nunca deitas ao meu lado
depois vens a mim
e diz o que é fado

que pensas tu
que não sinto a tua falta
em tuas noites calmas
ou que não tenho alma?
pois que também sofro e choro incertezas

que pensas tu
da dor que trago secreta
a corroer minha alegria e juventude
e em vão procuras entender-me

idilio