terça-feira, 26 de outubro de 2010

CITAÇÕES DE IDÍLIO

"mas saudade não é desejo de voltar é desejo de caminhar para tornar o viver melhor
saudade ensina que a felicidade é o desejo de encontrar"

"não pode o homem permanecer na ínfima nostalgia da volta
das fronteiras e sofismas da paixão
mesmo quando promete arcar orfeu ou olimpo
e se esvai no limbo
na eterna noite que emabala a lua
a minguante que derrete
quando se aventura a penetrar o dia"

CITAÇÕES DE IDÍLIO EM FRAGMENTOS DE POESIAS

"não
não deixas o meu dia incerto assim
poderia dormir no meu cansaço da espera"

"Às vezes  procuro a porta da minha amargura do meu destino, e por vezes entendo que o caminho que busquei elevou  meu espírito além do bem e deixou minha alma frágil às vicissitudes do orgulho e da mesquinhez"

"e o que você perdeu
deixou de ser seu
como a moral que se
esqueceu
no banco dos réus"

"o tempo
a utopia dos que vivem
de repente é tempo de colher
outros de escolher"

"Não é o saber da ciência, que se libra

Acima das nuvens, e alteia o vôo soberbo

Além das regiões siderais, até os páramos

Indevassáveis do infinito

Não, e sim um lábio que pede e se permite

Um mergulho nas entranhas de um corpo

Pelo céu de uma boca nua"

"não há um único possível
que possa resistir a fraqueza
de ter conhecido os meus sonhos"

"a minha tristeza é sossego

E a minha dor justa

Pois não tenho nem ambições nem desejos

E  às vezes choro e espalho pela encosta

Sentimentos frios"

"amei como louca
um beijo que te dei
e a eternidade pelo canto
do silêncio que vivo"

"Entre a injustiça e a bondade assenta uma tensão dinâmica dos ambiciosos e dos justos.
Com o colapso do egocentrismo a bondade deixa de poder renovar-se e entra em crise final"

"O amor é um sentimento prudente para a vida descente, mas é menos visível que o ódio, que se fortalece com a indiferença."

"teu nome já mora em mim
e te esquecer nessa distancia efêmera
depois de ouvir a tua voz
é perder-se nos umbrais da vida"

"É assim a fuga da alma doente, o esquecimento, a loucura, o escapar do real, é a defesa do espírito para a dor insuportável da realidade, é assim a esperança perdida, o desmoronar da fé.
O ser inconsciente revela lampejos do mal, a identidade preservada em espaços flutuantes do espírito que denominamos sulcos vivos ou placas vitais.
As placas vitais são reservatórios do ser infinito que permanecem na penumbra em patologias mentais, frutos da liberdade ou do livre arbítrio".

" assim como o êxito é o caminho para a solidão
é o fracasso o medo de quem procura"

" o amor não explode
não é desejo
não se resume
não é um beijo"

" o amor nunca é fora de moda
ele estanca e mora
se apossa
e nunca vai embora"

"precisamos das nossas vidas
como uma dependencia de corpos e almas
como se a vida fosse acabar para nós"

"é meu dilema
sonhar , sonhar
nem sempre é tempo de acordar"

" os sepulcros caiados da justiça pernambucana"

"ah! vida como repetes os contornos dos reencontros
levando as almas a se reverem"

"mas ouso dizer-te que a vida é encanto
acreditas que sonhar também infama?
e mergulahar nos olhos assim
não é sonhar
oh! alma insana"


" onde existem mais ilusões amigo
não é no sonho nem no luar
é na crua vida diária
que mais se busca viajar"

" você pode ter certeza
não são palavras vazias
que o louco solta no ar
ele dita experiências
ele pede clemência
ele só quer voltar"


sábado, 23 de outubro de 2010

Mulher

amo o teu viço agreste
e tu menina deusa de verdes águas

amo teu riso
quando choram em tuas encostas
quando sangras
como se fosse pranto
teu canto
encanto e canto

amo teu nome
e tua cara calma
tuas entranhas
de uma escuridão
sem mágoa

amo o fruto que teu corpo dá
e me dá e dá
beleza do lado de lá

mulher
mulher
mulher

desejos

te desejo
com corpo e boca

me desejo
e me vejo em teu colo
despido
livre dos meus sonhos
e medos

te desejo completa
tua alma
e o que escondes atras do vestido

teu riso
que desliza em teus lábios
teu sabor
e o gosto de tudo

te desejo
e me vejo de olhos
e sonhos
escrevo versos
e reversos

coisas de tempos distantes
quando ainda era primavera o meu canto

me desejo
e de novo me perco
entre o querer ficar
e fugir para além do jardim

pois foi assim
não soube dizer não
nem sim

minguando

às vezes pensamos que é fácil entender um olhar
no entanto o que se esconde por traz da íris é profundo
e misterioso como o mar
a beleza que permeia os olhos pode abafar a fragilidade do ser

não diga o mundo que eu não vivi
não diga os arcanjos que eu não busquei incensatemente amar
mas eis que nasci em um mundo roto
espelho sujo, cristalino quebrado
e distorce as imagens vertidas pelo coração

e pensar que o mundo amava como eu
que a emoção tem contrapesos e freios
e esconde que o olhar não é lídico e que o céu não é azul

não pode o homem permanecer na ínfima nostalgia da volta
das fronteiras e sofismas da paixão
mesmo quando promete arcar orfeu ou olimpo
e se esvai no limbo
na eterna noite que emabala a lua
a minguante que derrete
quando se aventura a penetrar o dia

a eternidade de mim

quando a minha flor de lácio partir
e o rio que existe em mim
escorrer para o mar eterno

quando meu peito urfante calar
e no silencio meu corpo somático
derramar o último suspiro

ainda assim
na agonia suprema da alma esquecida
poderei tragar o bálsamo
da minha eternidade

e viverei na dor dos que ficaram
no sonho do renascer
de uma nova esperança
no pai e no filho

Estela

segue a estrela que pra ti brilha
em qualquer noite fria

mas não deixas que ela te ilumine
à luz do dia

assim não sofrerás
da tristeza da luz sem guia

que apenas por ter deixado
de ser tua única estrela

desfruta da dor das paixões
vazias

a divina tragédia humana

a solidão é a mente para os pensam
e uma tragédia para os que sentem
e às vezes tanto que sentem
que mentem e fogem em uma sinfonia
de vida bela

e tanto que lacrimejam palavras
que às vezes choram versos
e tanto que distam do mundo
que não sabem se é mundo
a solidão que amam

homens que pululam na escada da vida
e se chegam no que pensam ser o fim
descobrem que mais dolorosa é a volta
para a terra de onde partiram

não existem voltas nem amanhãs
aqui é o tempo
e que tempo vive aqueles que sentem
e que tentam aprender a fingir que não sentem
e sequer visualizam imaginar que mentem

será comédia
a maravilhosa e trágica comédia humana

mas podemos decidir sobre
quanto tempo durará uma emoção
o homem que sente pode
pois entre o sentir e o mentir
existe uma emoção nua...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Itélio

O amor é a sombra da espera
é a voz que cala fundo a alma
que imagina uma boca e um beijo

o amor existiu, no átimo, entre o meu olhar e o teu olhar
foi o instante entre a minha vida e a tua vida
vidas difíceis, escolhas sem sossego, com lágrimas
em qualquer direção
e a espera longa maculou o sonho

mas não importa
se o amor estar, se petrificou feito dor latente
se naquele dia eu te amei e tu me amastes
talvez um segundo e não mais
tempo suficiente para se ser feliz

o teu olhar e o meu sonho
teu sorriso e a minha alegria
o teu e o meu

se não pude externar a felicidade de te ver lindo
se não pude te reter nos braços e lábios
não
nem por isso fui menos feliz
o meu amor por ti vai além do efêmero
ele é paz, ele é luz

não importa que você faça algo diferente
que entre inteiro em um mundo diferente
não haverá respostas

você é a minha porta para o universo

o teu olhar e o meu olhar
e a ponte que une o que somos
é tudo que resta
é é tudo que me é suficiente
para viver um dia feliz

Zara Feus

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

descarinho

oh! dor seca
que se aninha feito praga
e machuca a alma impura
que não é dúvida nem certeza
é só alma vazia
é o desprezo que se esconde
no negro espaço
entre o descarinho e a mentira

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O desperdício

O desperdício.

O quer dirias a respeito da falência da miragem do amor carnal?

A degradação das relações que o amor sustenta ou talvez a oposição entre o império da convivência e a modernização drástica da solidão.

Dirias, que os homens deixaram de ter nomes  e uma história, dirias até que para muitos deixaram de ser perplexos e sentem grandes dificuldades em identificar o simples.

O correto das relações entre amores desfeitos é o poder da indefinição ou indeterminação do passado,  não é fácil permitir o que  somos e esquece-se tão rápido das fraquezas  que vivemos e ignoramos o que conhecemos e a trajetória de um ponto que fomos.

O que dirias tu, que o conhecimento emancipa ou que o amor acabou?

Na atual fase dessa transição o silêncio seria a construção que se afirmaria como sintoma do fim, porém como fazê-lo falar sem que ele apenas fale necessariamente o que pretende falar.

Seria tragédia pessoal  não fosse cômico a atitude de gritar pra espantar o fim, minimizar a neutralidade da intimidade e concomitantemente, a ação rebelde parece tão fácil que se transforma num modo conformista alternativo, ficar ou partir.

No final, a capacidade, antes um consenso de beleza e de admiração, passou a conviver com o assento da resignação e do asco , portanto a desmistificação e o inconformismo.

Como fazer para recuperar a esperança no amor e o realismo desesperado de uma espera. Há um desassossego no ar, a sensação de estar no ocaso do tempo, entre um presente que ainda não nasceu e um futuro quase a terminar.

Dirias ..não mais me fascina o teu olhar nem teus sonhos que dormem sozinhos dentro de ti, não mais me embriaga respirar teus anseios, estou emancipada de ti e o amor se transformou mas não acabou.

Dirias, apenas dirias pois tua voz calou pra mim

Idilio.

 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

delicias da Hipocrisia

meus olhos sangram em um comando inexorável
ao deliciar a hipocrisia

meu corpo responde a essa chaga que aborta a dor
e que machuca mais que a perda

não tenho mais comando de mim e meu corpo padece inerte

esse gélido vômito de nostalgia e amores trôpegos

estou no limite e visualizo ao longe os demônios da minha semeadura

mas eis que quedo de joelhos
e imploro ao artífice do universo
não me abandones às margens de aqueronte
nem permitas que, mais uma vez,
trague no cálice da dor que redime o espírito errante

eis me aqui
fraco e pequeninino andante no tempo
eis me diante de ti
oh! semeador de ventos

tudo passa
não há homem que não saiba disso
o amor nos abandona de tempos em tempos
e nunca foi tão dificil decidir
o que sentir e o que não sentir
na eclipse da capacidade de sonhar

tudo passa
eis a necessidade de superar a transformação débil de uma decadência
e ver-se exposto à devastação da loucura
o colapso abrupto é a consequência de um dia a dia de uma árida dor
que afasta os projetos do futuro e arranca as raízes de uma vida

eis me aqui
diante de ti

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

o meu amor partiu

Hoje o meu amor partiu
levou seu feitiço
hoje acordei sem meu vicio
como posso entorpecer meu riso
se o meu amor partiu
arrancou o que pariu
e fugiu

hoje o meu amor partiu
levou seus vicios
hoje acordei tão só
com meus enguiços

e se o meu amor partiu
levou a chave de mim
nada deixou na porta da frente
só deu fim
a um amor no limite de mim
sem fim

hoje o meu amor partiu
renovou minhas angustias
minhas culpas
mas mesmo partindo
depositou aqui em mim
uma lágrima e um sorriso

hoje o meu amor partiu
pra outras avenidas
e eu fiquei assim
estrangeiro de mim

mas hoje
o meu peito se cala
apenas observa a estrada
que a leva
para longe de mim

hoje
apenas hoje
o meu amor partiu

domingo, 17 de outubro de 2010

Fábulas do meu viver

eu vivi na serra e nasci em uma madrugada qualquer de um janeiro vermelho
cresci entre o sonho e a sombra da pobreza que se aninhava em meu quintal
amei tantas mulheres que nem sei se amei mais ou demais
ou se vivi antecipando sonhos de amor eterno
o meu mundo sempre foi a minha estrada e a minha liberdade
a minha solidão foi a fábula derradeira que transmitia a minha dor primeira
o meu erro transmudou-se no meu verso e na minha canção

hodiernamente não sei mais se sonho e mesmo assim tenho anseios e fantasias
e não poderia dizer que vivo por viver e que a lembrança mata meu coração agreste
mas saudade não é desejo de voltar é desejo de caminhar para tornar o viver melhor
saudade ensina que a felicidade é o desejo de encontrar

sábado, 16 de outubro de 2010

O Ocaso

tenho muitas lembranças
tenho saudades de viver a minha história
as minhas certezas e ilusões
o meu mundo o meu canto e encanto
poder fechar os olhos e vislumbrar
na retina o infinito

poder sair assim sem destino e sem medo
sem ter que ser pragmático para o mundo em minha volta

eis que a vida escreve e reescreve os sentidos
eis o homem que busca sentidos
e assim se volta ao cárcere sem grades ou limites
e assim se torna o viver desgastante e sem sabor

não imaginaria uma vida assim
nem busquei uma vida assim
não teria motivos e nem sentido regredir assim

avida é todo dia
é ser feliz e retornar
na certeza do sorriso que espera
é não ter que dizer motivos
nem inventar paraisos
tenho muitas lembranças
e pouca certeza de quem ama

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

viver no fim

quantos anos menino
na ladeira do mundo

cresci sem saber
amei sem compreender
voltei
e na volta
esqueci a partida

voltar é seguir
caminhos opostos
é partir em direção
contrária ao fim

amei sem compreender
e desejei sempre um dia diferente
e no desejo morri
renascendo de mim

sem morte
a vida é assim
tão diferente sem fim
e às vezes é necessário
viver no fim

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

a boca e o beijo

ainda vivo na boca
o gosto e o medo
a saliva e o beijo

fecho os olhos e vivo a volta
e nem assim
em mim desperta
o que ela pensa

ainda vivo
meu momento
e nem conheço o seu caminho
de nada em sua vida

fecho os olhos
e mesmo assim
não consigo ao menos crer
que foi amor

dor sozinha

a minha dor
é minha
se é assim
então posso nominar
o estranho sentimento
de vida vazia

dor sozinha

as coisas simples

um olhar cansado
um beijo ao fim da tristeza
e assim se compreende
onde se encontrará
os velhos sonhos de amor à vida

um simples pedaço
de coisas pequenas
o olhar do filho
no final do dia

são as coisas simples
que despedaçam sempre
um coração que sonha
no final do dia

um olhar cansado
um colo de filha ao fim da vida
são as coisas simples
que choram por dentro
de um coração magoado

um simples pedaço de um passado
um olhar do filho
no espaço quebrado

são as coisas simples
e essas coisas simples
é que tornam o mundo profano
na magia do humano

um beijo no fim do dia
a lágrima que se esparrama
feito gota que espanta a dor
o beijo no fim da vida

são as coisas simples
e essas coisas simples
nos tornam pedaços
de Deus em nós

terça-feira, 12 de outubro de 2010

beija flor

em que tempo amei
o teu viço agreste
de loiras almas
beija flor

lho direi um dia
que verte a minh'alma
o cálido pranto
que furtou-me dos braços
de morfeu

que dor trago
ao ver-te furtiva
quando miro a tua íris
como em um adeus
que não tive
nem fui

meu dia de sol
meu dia feliz

palavras perdidas e conversas gastas

Amo aquilo que nos torna mais do que somos
amo quem tu és
e não em descobrir quem e o que tu és

a verdadeira escolha
a plena escolha
não poderia ser de outra forma

amo o que tu és
a verdade tem apenas pouco tempo de vida
e temos que dominá-la
como um vôo da imaginação

sigo e não falo de sonhos
vivo e não poderia ser de outra forma
amanhã ouço apenas palavras perdidas
e conversas gastas

amo apenas aquilo que nos torna mais do que somos
e não
não poderia ser de forma diferente

por onde andei

A vida é assim
como uma noite ...inesperada
em cada esquina morre um segredo
e nasce outra rua
outro desejo

e por onde andei
em tudo não me encontrei

e te enganei
e me enganei

na noite é assim
tem suas meninas
e em suas esquinas
deixei toda a minha rima
e posso nascer para outra poesia

sem ninguém
sem rima

apenas a lembrança
da menina que deixei
por onde andei

idilio

criança de rua - a dor do mundo

em alguma esquina
vejo uma tristeza caída
de alguém que fica
sem uma lembrança
sem uma saudade

vejo a criança tão só
e a esquina da rua
é a sua próxima parada
oh!Deus
porque tanta mágoa
se em noites que passam
nem lágrimas verão

qual a chance que destes
a essa pequena peste
a invadir teu quintal
vejo a tristeza na rua
uma mulher semi nua
qual a criança sem nexo
virou criança de rua
virou mulher de sexo

e a tristeza me invade
a saber que sem teto
nem uma lágrima consegue
cair do rosto da peste

é uma criança de rua
é a mulher semi nua
a exibir em protesto
todo seu abandono
por Deus e pelo demônio

é uma tristeza intragável
porque a mulher e o menino?
porque a dor e o castigo
foi tua busca oh! miserável
foi tua sede de tudo
que provocou o desastre
que escondeu a dor do mundo
na mulher e no menino


Idílio

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

o fim do dia

no fim do dia
adormeço cansado
depois de tanto andado
tantos sonhos encarnados
e tantas mágoas choradas
descubro que o amor é uma emoção perigosa
mas é tudo que buscamos
mesmo sabendo que ele pode nos levar a caminhos opostos
a felicidade completa ou a dor suprema
e que nada substitue a pessoa amada
então
quem ama vive uma eterna agustia
pois os caminhos se cruzam
vez ou outra
e por vezes a taça quebra
e o fim tem um gosto amargo
com as despedidas de amor
e com lágrimas no peito
mas tudo faz parte do mistério do riso

No fim do dia
existe uma esperança
de um novo amanhecer

domingo, 10 de outubro de 2010

quando o amor se vai

quando o amor se esvai
qual ampulheta que se perde
pelo tempo
nada resta se não cinzas
da fuga
se não restos de nada

quando o amor se perde
ele que foi a estrela de uma vida
deveria restar sonhos e alegrias
mas nascem desprezo e melacolia

quando o amor que seria perpetuo
morre pela sede dos amantes
choram os restos do que restou bom
os filhos e os amigos do lar

quando o amor termina
doe tanto que deprime o grito
que abafa a mágoa
que seria eterna
não fossem as lágrimas

vem pra cá

Minha lingua penetra por vez primeira

No céu do teu mel

O corpo saliva e cresce

E minha Iris se fecha

Imaginando teu corpo trêmulo

E a mão que procura

E o cheiro que escorre

E explode

Ultrapassa o virtual

É real

Eu e você

Na suprema linha

Que separa os amantes

E grito

Vem pra cá!

 

idilio

se fosse diferente

Há um sonho esquecido no ar

Que não permite o homem chorar

E chorar bem que é preciso

 

É preciso voltar

 

E a lágrima é uma viagem

Entre a nostalgia e o calar

 

Há uma paz esquecida no ar

Que não permite o homem sonhar

E sonhar bem que é preciso

 

É preciso calar

 

E o sonho é uma viagem

Entre o que já se foi

E o que seria

Se fosse diferente

 

 

a dor

Que canto seria um novo dia

Seria espanto

Um sonho que ninguém queria

Quem diria

Que a dor teria um novo dia

 

E não seria encanto

O sorrir depois do pranto?

 

E a lágrima fria

Não seria nada mais que um dia

 

Que medida teria?

 

Quem livre do desencanto

Julgaria

o despretencioso momento do homem

sem alegria ou dor

 

que encanto teria um novo homem

no mesmo dia

 

quem ousaria

viver um único dia

que ninguém queria

 

o que viria da lágrima

que chora dentro da iris

e cai dentro do peito

e suja a alma

que fria

não sente

o espanto que o coração não queria

 

nada mais que um dia

 

Idílio araújo.   27.12.2005

A chave de mim

Me chamou

Me tirou de mim

Me fez voltar

 

E aqui

Quem sou?

 

Me falou tão perto

E calou o beijo

Sem mim

 

E eu desprezando

Quem sou

Me fiz voltar

 

E aqui

Dispo o vestido

Que me prende a ti

Estou nua

Mas tu não tens mais

A chave de mim.   Idilio 01.11.2005

sábado, 9 de outubro de 2010

Crítica ao casamento - O amor leigo

 

casamento, perigosa herança, esta que nos é transmitida,
uma espécie de erro que tem a seu favor o fato de ser leal ao amor

essa herança não é uma aquisição, um bem, é antes um conjunto de falhas
e que instala a insanidade em nome de uma amor pleno

e além disto no amor leigo não existem verdades e sim uma síntese vazia
de acontecimentos perdidos numa continua dispersão do esquecimento

as conclusões apressadas em um conjunto de falhas que ameaçam os inocentes
embalam a culpa e entorpecem os amantes, que por ignorância real, fundam suas convicções,
quase se imaginam terem chegado a dissimar a complexidade factual
através das lentes da paixão.

Como podem dominar as confusões do descaso, lá onde o amor pretende inventar um fim
e a amizade a desenhar um começo

eis porque sem dúvidas o casamento não é mais desejável.
O homem por escuro a sua visão do amor
torna instável a frágil esperança do amor pleno e planta a desilusão por inumeráveis inexatidões lógicas e dispersão de sentimentos

a mulher que por convicção, mais ainda, que sabe, autoriza a dispersão do amor por desamor e fala de sonhos e partidas

a questão do casamento não é mais um desafio de um sonho inimaginável,
onde o amor por inquieto deveria repousar, não mais,
e sim trata-se de uma disputa de insignificancias ,
dos efeitos da dor e da recusa, embalados por concepções puramente esquecidas

sofismas da paixão

Todo homem tem princípios clausulas pétreas de uma vida
não quis Deus que os meus fossem abalados e removidos
mas eis que o coincidir desta existência declinante
com a inércia da luta de poucos para vencer as mazelas
celebradas pelo coração
era mais do que eu merecia
e negando-me a divindade um momento de tamanha ventura
não me negou senão o que eu não devia ter tido a inconsciência de aspirar o amor

Direis que isto de me achar desassistido assim é pieguisse
e eu vos direi que embora o realismo dos adágios teime o contrário
tolerem-me o arrôjo de afrontar uma unica vez a sabedoria dos provérbios

não é certo, como corre o mundo, que "longe dos olhos longe do coração"
o gênio dos anexins aí, vai longe de andar certo
não o coração não é tão frívole , tão exterior, tão carnal quanto se cuida
metei a mão no seio e o sentireis com a tua segunda vista
não com a malícia humana de pressários e desvarios
mas com o único fio suficiente para desenrolar a máscara da consciência e retornas ao mundo real nú de buscas e de satisfação

longe muito longe do gozo
só quem assim sente e age é quem vê e sente pelo coração

o amor é uma flor em um jardim, não podem haver tempestades nem sofismas da paixão
e só a lágrima rega a flor e quando ela está pronta
o beija flor busca seu céu para espalhar seu pranto
além do jardim do amor

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

asas perdidas

E depravei damas
e amei mulheres da noite
me rasguei em cada verso e gozo

enganei e me enganei
mas sempre poeta de mim

e o que me importa a bunda
a boca que expreme a língua
a culpa que teima pela resposta rápida

o que importa o sim e o não
ser pai ou mãe ser rei ou mendigo
apenas importa a lágrima e o sorriso

Sofismas de mim

Parece-me que hodiernamente vivo
com sentimentos escassos vazios de mim
como se a relatividade do meu tempo fosse efêmero
e a minha boca já não salivasse mais
já não buscasse a língua
e o que sou teria me tornado cálido

parece-me assim
como se a lua minguasse e eu fosse tudo
seu mundo e céu
mas já não terminasse meu

parece-me apenas parece-me
não que calcifique assim feito sonho
dentro de mim
não que pantentei-se como sofrimento
melado e cheio de odores fétidos

parece-me que morro e renasço
e permaneço inevitavelmente inerte
e em minha íris caminha levemente
o que quis
apenas o que quis

parece-me
é o que parece ser
e tudo que verdadeiramente parece ser
apenas é

meu sonho

Estou aqui nesta cidade
fui estrangeiro de mim
viajei longe
além do Brasil
pra te encontrar fui rei e menino
fui céu e naveguei por aqueronte
e já na volta perdido
e já cansado
sem sentidos

fui lembrança em cada volta tua
procurei tua boca em tantos lábios perdidos
te fiz um nome
e uma história
te fiz princesa e deusa
busquei teus olhos
em cada vento que espalhava teu cheiro

busquei e me perdi
e hoje já perto da volta
já cansado da estrada
você me aparece no sonho

que nome te dei?
o que me espero e esperas
nesta nova estrada
te farei feliz
eu o juro
e queira Deus
que me aplaques a ânsia de viver

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

desabafo do tempo

eu bem lembro
as loucuras que tivemos
é só fechar os olhos
e viajar no trem da volta

tu
uma cidade nova
uma linda fantasia
ah! a felicidade morou lá
quando nada tinhamos
só eu e tu
quando ainda eu era jovem e podia sonhar
um sonho sem versos
e sem ilusões da poesia

hoje frio
já velha que sou
como uma paixão morta

lá estava eu
ainda era tua
e me amavas simples
talvez!
o valor do que sou
esteja latente
do que fui e vivi
junto a ti
que será eterno
como eterno é o palpitar
de uma dor e um sorriso

uma velha que amou um dia

um instante

o começo
eu vivi cada momento
como o meu único e último instante

eu amei
cada palavra
assim
como o único instante do meu mundo

senti
em cada instante
que o momento
meu único
estava caminhando para o lugar dos sonhos
o lugar que buscamos
o que fomos

idilio

A dor das paixões

Encontrei você na rua
de mulher te fiz
musa das minhas canções
e como um deus que já sabe
qual o destino que me cabe
desfruto da dor das paixões

Putas

nuas
frias mulheres
todas promessas vis
em um cio frenético
a depositar seu corpo cético
em mão também sem cor

homens sem olhos
pois não conseguem ver a menina
que se engana
e derrama o que restou pura
o seu desejo de ser dama
toda noite
toda nua

Idilio

Juá

serra do Ororubá
terra dos amigos primeiros
onde sonhar alto
era a lei
imaginar despretencioso
de um menino maior que o mar
conjecturas varonis
amar a mais bela menina
e ir na lua morar

não
não existe mais serra presente
pois menino morreu no Ororubá
envolto em seus enleios

e quando o cálido ocaso
ilumina a terra do cruzeiro
pusilânime luz
fuga do Cristo Rei ao mar

é o menino que corre
com medo da vindita da noite
pois na escuridão da terra
o menino torna-se homem

Sebastião Barbeiro

Sebastião Barbeiro
da baixa ao firmamento
viveu entre filhas e sentimentos
que não param em nós
sorrateiros descendentes do violeiro
que tocava uma mulher
como se fosse verso

e eu que não pude adentrar
teus valorosos mistérios
procuro o mestre
mas sou filho do teu verbo
do teu olhar
entre a culpa e o prazer

e de viver um dia
nas ladeiras do Ororubá
juá
salve! salve!
bastião
lá no céu onde "tu foi morar"
também tem a vila Pesqueira
e mulheres e ladeiras

escuta esse canto
do pranto do fruto
oxalá rapinas dos Cimbres
descendentes do Brejo
aportaram por lá
e nasceu o poeta
que por mulher pinta um domingo
de barbeiro e um pastor
saravá...

Marina

Fumaça nos olhos
e uma praça pequena
como pequena foi
Marina

e eu jovem neófito da vida
amante eterno no mundo da menina
viajo no mundo das fadas e reis
e choro a saudade

ah! saudade
dor que Deus inventou
pra não parecer dor
o disfarce de uma lembrança

para alguém

os dias são curtos
a vida é efêmera
e sempre se chega ao fim do dia

a nós não nos é permitido
rever fatos e dias
o prazer é tão curto
mas nos acompanha em instantes inesquecíveis

e a emoção em nós nascida
se prolongará a cada manhã
em que vejo o sol nascer

serás sempre querida
pois a simplicidade que brotou em nós
jamais se confundirá
em um tempo diferente

viveremos sempre como um começo
e o fim para nós
mesmo que inevitável
se prolongará como uma partida

Carmim

carmim
vestida de cetim
de branco
jasmim
com gosto de vênus
não tocados por mim

lábios carmim
cabelos
jardins do trigo
que bela musa
enfim

teus olhos
querubins
janelas do mel da boca
do riso
do além
muito além do fim

tua pele
pétalas de rosas amarelas
cigana
tua dança
teu silêncio me encanta

teu plexo
teu amor
estrada longe de mim
pétalas

me ama
ama e encanta
sê dona de mim

Carmim

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Os mistérios do Rosário e do Véu - Magia negra a energia doente. Cap. 1;2;3;4;5;6;7

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OS MISTÉRIOS DO ROSÁRIO E DO VÉU.

Magia negra, a energia doente

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                           

 

 

 

 

 

 

                              Zara Feus

 

                            Idílio Oliveira de Araújo

                                     

 

 

 

 

 

 

O homem tem que se manter fiel aos seus princípios, mesmo nas adversidades, mesmo em um tempo estendido, em tempo de dores e nostalgias.

Um homem de fé não pode tombar em desgosto, pois o acaso não é obra do criador. E as sementes lançadas ao solo? E a colheita dos frutos? Tudo faz parte do mistério do riso.Não te deixes anistiado, não queiras uma vida sem lutas e desafios, a subida pode ser árdua e cheia de dificuldades, e muitas e muitas vezes, na subida, tu te arrastas feito lesma, pois se te pores na vertical certamente tombarás no abismo da desilusão, e não esqueças que a descida é rápida e violenta, e muitas vezes machuca um coração desprevenido.

Mas ao voltares à vida real, ao limite do teu sonho e vida, deverás continuar a caminhar com alegria e sem mágoas pois se assim não for, perderás um ou outro nos desvios de uma vida sem fé.

Não te desesperes meu amigo, pois se parares na subida , prejudicarás os que se postam atrás de ti esperando para seguir o único caminho permitido, o único caminho fora do abismo, arrasta-te, mas segue, fere teus pulsos e veias, mas segue, choras , mas segue cantando, não olvides que ao teu lado dois seres iluminados volitam seguido teus passos, e nunca , nunca estarás sozinho.

O passado, mestre da vida, senhor do destino, nada te pede , apenas recorda, em nada te pune , apenas restaura.

 

 

Zara Feus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A moral de um homem é o seu porto seguro

A fé o seu abrigo maior

Virão as noites frias e sem lua

Virão as tempestades e as lágrimas

Na turbulência da moral o homem naufraga

Na ausência da fé, torna-se indigente

Na solidão o homem busca sabedoria

Mas é na presença dos entes queridos

Que encontra felicidade

Na dor o homem cresce, se reflete os erros

Mas é na alegria que progride.

Zara Feus

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mensagem inicial.

 

 

 

 

 

A vida meu amigo é uma breve temporada, que engloba várias histórias, mas tão pequenas em tempo que chegam a ser esquecidas em vários momentos, e cada espaço percorrido torna-se um átimo , depois e uma eternidade no durante, no existir no momento.

E nessa vida deve-se buscar além da preparação para os prazeres materiais, sobretudo, a espera, a preparação para a dor que se avizinha, pois entre um dia e uma noite sempre existirá um morrer e um novo dia.

Se o amigo busca apenas a alegria de momento, saiba que de momento tudo é efêmero, o que fica e o que resta em nós é a alegria na dor, é a resignação na espera, é espera na dor.

Tudo meu jovem compositor de vida, é reflexo, o próximo instante reflete o antes, as conquistas são tão frágeis.

Prepare a sua amargura, objetive a sua vida para que a dor chegue e ao se instalar se depare com paz dentro de ti, e entenda que é passageira, que não mais que um instante, que dura menos que uma vida.

Não se desespere nunca, desespero é falta de preparação para o futuro incerto, desespero é prolongamento do medo , e semântica da dor.

A vida meu amigo é oportunidade de renovação, é oportunidade de rever erros e fatos, de rever amigos e alegrias esquecidas, é oportunidade de evoluir a alma impura, é a chance de vencer uma nova etapa.

A felicidade é alheia a nós, ela pertence aos outros, a quem amamos, aos filhos e pais, a felicidade está no outro, externa a nós, ela é um veículo de transição um veículo de união é a paz sonhada.

Não se pode ter dois tempos, tem-se sim dois lados , duas etapas, tem-se dois momentos, várias vidas, várias histórias, tem-se sim muitas oportunidades.

A magia , a energia doente, o erro , o engodo , a falsa certeza da eternidade do conhecimento, a sabedoria não se despedaça no tempo.

Meu nome e  minha história, serão novas etapas no mundo das energias disformes, no mudo das certezas irreais.

Zara Feus. 

 

 

 

 

 

 

1. O vale dos Mortos

 

 

No vale dos mortos na cidade Comum do país de Gales, no monte sagrado de Snowdon, perto das cambrianas, ainda hoje, pode-se vislumbrar ao longe, preso por um tênue fio, em uma tumba, o véu e o rosário.

O que existe é escuridão, e os dias lá, são como a noite, uma única escuridão, a névoa, os jardins abandonados e o vento que uiva, como um lobo perdido. As folhas secas correm como se vida tivessem.

É lá, sentada próxima aos meus restos mortais, que fico, perdida e sem ter forças de desprender a minh'alma da carne apodrecida do meu corpo sem vida.

Fico dias, semanas, anos, dia a dia, noite a noite, apenas a sentir o  perfume que exala da minha última morada.

Estou vestida com um vestido longo, dos tempos dos reis, um manto negro, mas de um negro com vida, os babados da saia são cheios de rosas negras, mas , para minha tristeza e dor, o meu corpo está sujo, meu vestido , apesar de belo, está envolto em lama, uma lama , viscosa e enegrecida.

É aqui, o meu tempo, é aqui a minha vida.

Os jardins da casa dos mortos, é o único lugar que posso estar. Caminho por entre as suas paredes, cheias de lodo e musgos. Aqui os mortais não mais freqüentam, pois é um lugar esquecido do mundo, fica em uma montanha , longe da vila, no escalpo de uma gruta cheia de árvores e samambaias. Os homens não mais conhecem a terra dos mortos. È aqui que vivo, longe da minha vila , dos meus parentes, de tudo que fui.

Estou sentada, com as mãos postas por sobre o meu vestido, cabelos em desalinhos, caminho descalça por entre os restos mortais  da minha juventude e alegria.

Meus pés sangram, mas não é esta a dor que corrói minha alma, a minha dor é infinita é a dor da culpa, é a tristeza do remorso, a minha dor é maior que a  minha capacidade de suportá-la.

Posso visualizar à minha frente os jardins do palácio do meu pai.

Sim, me vejo a correr por entre as árvores frondosas e a grama verde que se alonga por quilômetros da nossa propriedade. Comigo brinca uma outra criança, sim , é ele, o meu Patric, meu sol , nós somos dois anjos ao vento, meu vestido infantil de cor amarelo com bordados creme, se confundem com a roupa de Patric. Ele é bem mais velho que eu , talvez quinze anos e eu nove . Ele usa uma roupa colada ao corpo  de cor esverdeada, mas  a sua calca é presa um pouco abaixo do joelho e segue uma meia branca e uma sapatilha preta. Ele é um cavalheiro.

A minha visão se turva, e não consigo mais enxergar , por isso grito e blasfemo contra o Criador, que me abandonou aqui neste vale de lágrimas, só e sem o meu Patric.

Começa a cair uma chuva fina , fria, e eu choro. Mas a lágrima que lava minha alma petrifica a minha dor, não mais choro de pavor ou medo, não mais choro o desespero de estar só, apenas a lágrima derrama na minha face a mágoa que tenho de viver e não morrer nunca, apenas choro, sem sentimentos ou melancolia.

Nada do que sei e aprendi sobre dores, fluidos, terapias de ilusões, ervas corpos, vampirismo, nada, é como se aqui o mundo não tivesse encanto e as leis físicas e psíquicas não existissem, aqui, digo é um lugar sem leis, sim , sem lei real. Onde estão os mestres da escuridão a quem tanto servi, e eu aqui, perdida e sozinha, meu único alívio é imaginar que Ele existe, o mago branco, o senhor dos mundos, o alívio dos mortos. A magia da luz.

Eventualmente, mas com freqüência, recebo visitas de monstros, que uivam e ameaçam a minha dor, gritam que vão levar meu espírito desolado para prisões onde certamente entenderei a dor e o ranger de dentes plasmados nas escrituras sagradas.

Outras vezes sinto um alívio espaçoso para minha desdita, uma brisa suave invade meu ser.

Entenderei no tempo oportuno essa dubiedade de sentimentos.

Compreendo que o que fiz me prende aqui, mas imaginei que poderia me desvencilhar dessas amarras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2. A Inocência perdida

 

O Castelo do Senhor Renoir, fica na encosta da montanha do mar. Tem duas torres, uma com vistas para as florestas verdes das serras do mar, a outra, sem janelas , apenas no alto aberturas  que corre o vento, em um ambiente frio.

Na frente do Castelo, um lindo jardim, com a grama cortada, aqui e ali, arvores majestosas  convidavam à meditação e a prece.

Quem dera eu houvesse percebido tudo isto, antes de embrenhar-me na escuridão, antes, bem antes de conhecer a magia e a sedução das trevas.

Meu pai, homem poderoso, senhor da vida e da morte nos seus domínios, não perdoava a menor falha dos seus, vivia em seu mundo, e nele comandava à mão de ferro.

Eu cresci assim, entre o poder e a solidão, pois minha mãe partiu para a terra do adeus, antes do meu primeiro sorriso, na minha primeira lágrima.

Ainda criança, quando abandonada na torre cega, para entender, na visão do meu pai, a necessidade do isolamento e o desprezo pelos outros, petrifiquei as minhas emoções , aprendi a fingir e a modelar a dor.

Certo dia , na torre, sozinha, recebi a visita  de uma sombra, não tinha medo nem alegria, apenas curiosidade, aquela mulher vestida de negro, sentada em um canto, de frente para as paredes nuas da torre, repetia palavras incompreensíveis e sem descanso, as mãos postas à sua frente entreabertas, como que a amassar alguma coisa invisível aos olhos, olhos fechados, eu me aproximei, ela de repente volta o olhar em minha direção e diz palavras que não entendi, eu recuo e ela levanta os braços , fecha-os lentamente unindo as mãos como em uma prece e some da minha visão como que por encanto.

Foi assim o meu primeiro contato com ela.

Outras noites ela voltou, já não mais senti solidão, aquela mulher vestida de negro, me acompanhou pelos caminhos da magia, servia me de guia, de norte, foi ela que me apontou  o caminho.

Ficava a observar os seus movimentos, e mais tarde ela confessou me que aquilo era a preparação para a minha iniciação.

 

 

 

 

 

 

3. O Colégio Rosário

 

O Colégio Rosário estava situado em uma rua singela, sem árvores e sem cor.

Foi assim, pobre, paredes de um branco perdido, um chão tosco, e uma roseta pintada na parede da frente que conheci a dor e o desespero de um tempo perdido.

A primeira vez que visitei o Rosário, senti que lá seria a derrocada da minha vida. Um arrepio ameantou a minha coluna e o meu corpo tremeu de um arrepio frio e sem sentido.

Mesmo assim, não temi.

A minha visita se deu em virtude da festa da magia.

A festa da magia era um encontro com o desconhecido, e eu com quinze anos e filha do poderoso senhor das terras do Renoir, além de aceita reservadamente, poderia ser a mais poderosa das senhoras do Rosário e do Véu.

O encanto do poder fascinou a minha mente varonil e a minha ânsia e desejo de manipular as trevas e o desconhecido.

A reunião trazia as novatas com o rosto encoberto em um véu negro, ao adentrar no primeiro pavimento senti que não mais poderia voltar, e que, apesar de nada saber, entendia que o meu destino não mais me pertencia.

Hoje, ainda sinto na minha alma o peso da minha decisão.

Era um tempo diferente, a manipulação das forças do mal era uma preocupação infernal na sociedade em que vivi.

Foi assim, que se planejou a derrocada das trevas na terra, Patric seria e viria à terra destruir o mundo das trevas, a encarnação do mal, a destruição de um tempo onde o mal era o grande vencedor. Ele fora o escolhido por suas qualidades morais , mas eu, a sua alma estrelar, o seu tempo perdido, o seu bem , seria o mal , a sua prova mais difícil, a sua tentação e agonia. Seria eu  o caminho do fracasso do meu amor.

Eu fui a encarnação planejada pelas trevas com a permissão do senhor da vida. Mas Patric aceitou resgatar o meu espírito do Limbo.

 

 

 

 

 

 

 

4. A Iniciação

 

                            As iniciadas caminhavam em fila, todas vestidas de preto, mãos postas como em oração, porém, os dedos indicadores de cada mão permaneciam colados aos lábios, como a relembrar a necessidade do silêncio e do juramento, de não revelar os segredos do Rosário e do Véu.

                             Eu, e mais três, estávamos ao centro, ajoelhadas, com as costas voltadas para as demais e de frente uma para a outra , formando um círculo, em atitude de oração.

                             O templo era de uma escuridão que trazia feridas pela luz das velas que tremulavam no ambiente, na verdade eram nove velas postas em círculo, formando um anel para aprisionar-nos através do fogo.

Senti ao meu lado a presença de um ser que não pude visualizar, mas sabia que era imaterial.

No grande círculo as iniciadas caminhavam no sentido horário e no pequeno círculo, apenas nove caminhavam no sentido anti- horário.

Quatro, das nove, aproximaram-se de nós quatro e derramaram um líquido quente em nossa face, falando palavras incompreensíveis para mim, mas senti a evocação das forças das sombras.

Não tinha medo, estava destinada a vencer as forças da natureza, a manipular as energias do mundo.

Assim, tornei-me uma iniciada do Rosário e do Véu, uma seita destinada a estudo da magia em todos os seus ramos que existiu no passado e que repercute ainda neste século os seus ensinamentos  e compromissos com o plano maior.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5. Magia Negra.

 

 

                            Era uma rua escura e pobre, lá uma menina havia morrido, numa casa simples, o quarto pequeno uma velha cama à esquerda, uma cortina fazia as vezes da porta, e no canto direito, o véu tentava esconder o corpo, pois a família não tinha condições de comprar um caixão.

                            A nossa missão era simples, estávamos ali para subtrair o corpo, quando ainda estava com restos de poder vital, para que os senhores das sombras pudessem usá-lo em magia.

                            Éramos três, eu, a adolescente que se faria amiga da pobre família e dois iniciados que se passavam por meus fiéis escudeiros.

                            Aquele corpo inerte, angelical, eu a maldade vestida de cetim, dentro da pobreza e da dor, prometi dignidade àquele corpo e pela vez primeira menti e levei o corpo sem vida para os vampiros que imaginei seres evoluídos e poderosos perante mim.

                            Dantesca a cena de aspiração do fluido vital. Colocávamos o corpo nu, deitado com as palmas das mãos voltadas para cima, e próximas ao corpo. O Guardião ou Grande Mestre, vinha por trás do corpo e com as mãos envolvia o chacra frontal do corpo já sem vida e canalizava a energia que se desprendia para a boca aberta, atrás do mestre, dois outros de hierarquia imediata, formavam um triangulo perfeito e com um dedo em riste em cima do chacra situado à base da coluna do Mestre, sugavam energia canalizada do corpo, depois de filtrada pelo corpo do Mestre, e assim, sucessivamente, dois a dois até o nono triangulo  perfeito.

                            Na parte inferior do corpo, exatamente nos pés, ficavam os iniciados, a retirarem os fluidos mais materiais, desta feita, cada iniciado pegava com ambas as mãos, os pés do corpo sem vida e por dez segundos recebiam os fluídos do corpo, eu não consegui me aproximar do corpo, mas fui punida, com o isolamento por longo período e nas reuniões ficava fora do cordão energético de isolamento, e para me redimir perante a assembléia, tive que levar uma jovem para sacrifício perante todos.

                            Como dói recordar a loucura que enredei em minha vida, como coro ao lembrar aquele corpo de menina inocente para os lobos e como me será penoso relatar aquele dia, o mais sofrido em toda a minha existência, pois a menina flor era a minha pequena irmã. oh!Deus, perdoai-me.

 

                           

 

                           

                           

6. O sacrifício

 

Havia eu retornado à casa, envolta em sombras, seguida pelas sombras espirituais dos Monges desencarnadas do Rosário. Seres atrofiados, e fétidos, porém, apesar da decomposição perispiritual, eram Mestres renomados da Seita, Senhores da Magia e do Véu.

A influência desses seres era tão presente, que os meus desejos eram determinados por eles.

E naquele dia, a determinação era única. Sangue para os Mestres, energia vital para os Magos das Sombras, sangue puro e infantil, era a prova do meu desespero, da minha decomposição, do fim da pureza em mim.

Entrei, como que menina pura e feliz, cantava qualquer música que lembrava a Terra Natal, a porta estava vigiada pelos seres negros, a minha aura também era negra e afastava de mim os seres de luz que zelavam pelo meu lar. O meu livre arbítrio, a minha decisão. Bem, que se tentou impedir, mas Letícia era devedora, a sua candura atual não havia apagado a necessidade do resgate final de um passado marcado pela dor, foi ela responsável pela exterminação de toda uma Vila, queimados vivos, arrancados do convívio do lar, e jogados aos lobos famintos da desordem e destruição.

Disse qualquer coisa, não recordo, envolvi Letícia por entre os braços, beijei os seus lábios e a convidei, - Vem comigo, vem amor meu  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                           

                           7. A Exaltação.

 

                             Hoje, retornei àquelas ruínas de uma pequena igreja em uma cidadezinha perdida no meio do nada em algum lugar do universo.

                            Já na minha chegada soube da morte das três irmãs.

                            Evidente que me desloquei até lá. Paredes nuas e pelas frestas das velhas portas pude observar os quartos desarrumados, as bonecas usadas em magia esquecidas em um canto, algumas velas coloridas, derretidas.

                            Entrei como habitualmente, por trás da construção e ali pude ver o velho cão caído morto em seu canto. Desta vez não fui atacada. Subi pela lateral e cheguei ao pavimento superior. As janelas quebradas, e por toda a construção ervas daninhas cresciam como a tentar dar vida ao local, mesmo uma vida sem forma.

                            A velha e velha amiga, cabelos em desalinho, faces enrugadas, vestido azul queimado pelo sol, apareceu por entre a vidraça quebrada e me perguntou o que eu fazia no local, afinal eu não era bem vinda, na verdade, apesar do seu mal humor constante ela apreciava a minha presença, mas fazia questão de se mostrar carrancuda.

                            De inopino e quase que imediatamente apareceu a sua irmã, estava como que alienada, olhar fixo no infinito e rosto com um pó branco que denunciava a sua morte recente.

                            Falei da necessidade que se tinha de enterrar os corpos para que elas não ficassem envolvidas na carniça natural da carne em decomposição. Ela relutou mas permitiu que eu retirasse os corpos.

                            Iniciei a retirada pegando cada um dos corpos e levando ao quintal lá próximo onde o velho cão dormia o sono derradeiro.

                            Pacientemente e envolvido nas emanações fétidas dos corpos enterrei um a um, inclusive o do velho cão de um preto encardido e seco.

                            Terminado o que me propus a realizar retornei ao corpo, não sem antes tomar uma bebida de cor goiaba que me sufucou até despertar sem fôlego e quase a não solver o ar puro do ambiente em que se encontrava meu corpo a repousar.

                            Estas viagens astrais eu fazia com freqüência, o meu aprendizado em magia me permitia encontros fortuitos com os seres que vivi e mantinha aproximação.

                            As almas esquecidas que permitiram a minha presença eram iniciadas condenadas ao esquecimento por traição à Ordem e por revelarem segredos só abertos por três mãos em um ritual em que usávamos sangue de animais vivos e depositávamos nas entranhas dos mesmos a dor a ser espalhada no corpo de quem se revelasse contrário ao Rosário e o Véu.

                            As duas irmãs foram condenadas a perecerem perto dos seus restos mortais, ligadas pelo liame, fio de luz, até a decomposição e morte do Cachorro usado por elas em um trabalho de destruição não permitido pelo Grande Mestre.

                            A minha designação para efetivar o trabalho de cremação dos eflúvios etéreos  dos corpos e do benzimento dos espíritos, se deveu a minha preparação para ocupar o lugar de Mestre do Rosário.