domingo, 12 de setembro de 2010

nos bastidores da loucura

ela morava naquela casa há muitos séculos.
Seu semblante catatônico e sua voz metálica embriagava ou entorpecia de forma patológica os frequentadores do lugar.
A minha missão era resgatar do purgatório aquela alma sinistra.
Várias investidas fracassaram, por desídia minha, por vezes, outras, por calcificação daquele cordão que não mais sentia emoções nem sonhos.
Entrei como se o convite estar alí tivesse partido de mim. Ela me rconheceu em um átimo, mas de imediato recuperou a insanidade. É assim a fuga da alma doente, o esquecimento, a loucura, o escapar do real, é a defesa do espírito para a dor insuportável da realidade, é assim a esperança perdida, o desmoronar da fé.
O ser inconsciente revela lampejos do mal, a identidade preservada em espaços flutuantes do espírito que denominamos sulcos vivos ou placas vitais.
As placas vitais são reservatórios do ser infinito que permanecem na penunbra em patologias mentais, frutos da liberdade ou do livre arbítrio.
Ela não aceitava deixar o lugar conhecido e tão seu, para ingressar no desconhecido .
Seu estado físico e mental molhava a íris de qualquer um sensitivo.
Sem medo ou asco, abracei seu vestido de um branco doente e nada pedi, nada falei, apenas lágrimas e solucei, incontrolável foi meu pedido mudo.
Enxuguei seu rosto, cabelos em desalinho e o olhar no vazio de tudo.
As palavras ditas não surtem o mesmo efeito das palavras mudas tocadas pela alma de quem ama.
O amor supera o carma e reduz o destino do mal.
Conduzi aquela criatura, por ser filha do criador, às paragens de recuperação do infinito.
Que Deus a abençoe.

Zara Feus

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